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“Aprender é sustentar o não saber: o espaço do desejo na vida do estudante”

  • Foto do escritor: Wallyson Pereira dos Reis
    Wallyson Pereira dos Reis
  • há 6 dias
  • 2 min de leitura

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Autor: Psicanalista Wallyson Reis


Aprender não é acumular conhecimento — é sustentar um vazio.

Vivemos uma época em que o estudante se sente pressionado a saber tudo, a ter respostas rápidas, a não demonstrar dúvida. Mas o processo de aprender é, antes de tudo, um exercício de sustentar o “não saber”. É quando o sujeito aceita sua condição de não domínio que algo novo pode, de fato, nascer.

Paulo Freire dizia que “ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, os homens se educam em comunhão”. O “não saber” aqui não é falta, mas abertura: é o gesto de se colocar em relação com o outro e com o mundo. É no espaço do não saber que o conhecimento se torna encontro — e não imposição.

Winnicott, por sua vez, nos lembra que o aprendizado autêntico acontece quando há espaço para o brincar, para o gesto criativo. E brincar é justamente experimentar o limite entre o que se sabe e o que ainda não se sabe, entre o que é interno e o que é externo. É o espaço potencial — o território entre o eu e o outro — que dá vida à experiência de aprender.

O estudante que se permite não saber sustenta o risco da frustração, da dúvida e da incompletude. E é nesse risco que se dá o verdadeiro movimento de transformação. O saber que vem do “não saber” é o saber que se constrói, não o que se acumula.

A terapia com estudantes, nesse sentido, pode ser o espaço onde esse “não saber” deixa de ser vivido como falha e passa a ser reconhecido como potência. O estudante que aprende a sustentar o vazio, o limite, e o desconforto do não saber, começa também a se abrir para o desejo — esse motor silencioso que faz o conhecimento pulsar.

Aprender, talvez, seja isso: um rompimento narcisista. Aceitar que não somos donos do saber, que o outro também nos ensina, que o mundo nos afeta. Aprender é se deixar tocar, é deixar-se transformar.

E talvez, no fim das contas, o verdadeiro aprendizado comece quando o estudante aceita que não saber — também é uma forma de saber.




Referências


FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 58. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2019.


WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.


WINNICOTT, D. W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 2005.


FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. VII.

 
 
 

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